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Os objectivos educacionais do programa de Filosofia com Crianças (FcC)

Segundo Matthew Lipman, autor original deste programa, a filosofia não é apenas teoria, mas prática também. É algo que se faz em articulação com a teoria; o que implica a sua aplicabilidade prática. Pensar, é uma actividade que compreende um bom número de movimentos intelectuais, ou seja, ginástica mental. Esta actividade, com exercício continuo e aplicado, transforma-se em hábitos adquiridos e a aplicar. Por isso mesmo, o programa de Filosofia com Crianças, propõem a transformação de uma aula normal, na constituição de uma verdadeira comunidade de investigação.

Os membros de uma comunidade de investigação ensinam-se mutuamente; o que implica o reconhecimento e respeito para com as contribuições de cada um dos seus membros: o respeito por diferentes perspectivas sobre um mesmo tema, estilos intelectuais distintos, experiência de cada um, estar aberto à correcção de argumentos, à auto-correcção, etc. Em suma, estamos perante uma metodologia só possível se for garantido um clima de confiança e respeito mútuo, sem o qual o diálogo não se torna possível.

A comunidade de investigação permite aos seus participantes experimentarem viver um contexto de mútuo respeito, propício ao diálogo disciplinado e à investigação cooperativa, livre de arbitrariedades ou manipulação. Este modelo permite o exercitar de certas atitudes, valores e procedimentos que constituem o cerne da concepção do que é a ecologia: a contribuição de todas as partes para o equilíbrio do todo, preservação do que é valorado, atender a desafios e mudanças para o que se torna necessário um correcto exercício do pensar. Só assim se pode aspirar à criação de um modelo sustentável de desenvolvimento que respeite o meio ambiente e atenda às necessidades sociais. São estas as condições que concorrem para a preservação cuidada do planeta, no seu todo, garantido o futuro das gerações vindouras.

Promover a investigação filosófica requer prática bem como um número de competências cognitivas conducentes a uma série de atitudes, sendo estas inerentes à própria prática do diálogo e da discussão filosófica. Por exemplo: explicitar as razões em que assentam as nossas perspectivas, confrontar as nossas ideias com a experiência, estar aberto a corrigir os nossos próprios juízos, descobrir as implicações e consequências dos nossos pontos de vista e dos outros, formular questões, formular hipóteses, clarificar conceitos, tomar em conta todos os aspectos de uma situação, fornecer exemplos, utilizar critérios lógicos, etc.

O diálogo em aula assume um carácter não competitivo e não implica, necessariamente, a adesão à opinião do outro. O consenso não é obrigatório, nem necessariamente desejável. Em sua vez, tudo o que se pretende é a clarificação de pontos de vista e respectiva fundamentação, o que acontece no trabalho de uma agenda de discussão. Esta é uma prática natural de uma comunidade de investigação: fazer uma listagem das questões propostas pelos participantes e que estes se dispõem a trabalhar, nessa sessão. Esse trabalho implica um esforço de clarificação das perguntas feitas, a análise de conceitos, procura de exemplos, emprego de raciocínio logicamente correcto, etc. Um grande número de competências são assim orquestradas, quando postas em prática de uma forma contextualizada.

Filosofia com Crianças é um programa rico em conteúdos filosóficos, incluindo temas como a natureza e a relação entre o homem e o ambiente. Estas questões estão especificamente contempladas neste programa, que é composto pelos seguintes materiais: uma história filosófica a ser trabalhada com os alunos, Kio e Gugas, e respectivo manual do professor, Espantando-nos com o Mundo. Este material, história e manual, destina-se a ser trabalhado no ensino básico (2º a 4º anos), inspirou muitos dos temas e exercícios que se podem encontrar em ECODIALOGO. Acrescentamos ainda, toda uma série de referências a exercícios do manual Espantando-nos com o Mundo, de modo a enriquecer as actividades propostas.

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